O intestino é conhecido como “segundo cérebro” porque troca informações com o sistema nervoso por vias neurais (sobretudo através do nervo vago), imunes e hormonais. A função intestinal pode influenciar o funcionamento cerebral e a susceptibilidade a crises epilépticas. O cérebro, por sua vez, influencia motilidade, secreção e permeabilidade do trato gastrointestinal. Essa relação é tão relevante que, em humanos, a estimulação do nervo vago – que, além de outros órgãos, está extensamente presente nos intestinos – é muito utilizada com auxilia no controle de crises epilépticas.
As bactérias intestinais influenciam a produção de hormônios, neurotransmissores e metabólitos que afetam o funcionamento cerebral. Pessoas e animais com epilepsias podem ter disbiose (alteração na microbiota intestinal). Fenobarbital e alterações na dieta podem modificar a microbiota e aumentar a produção de ácidos graxos de cadeia curta como o butirato, que pode ter efeitos anti-inflamatórios e anticrises. Em estudos iniciais, o transplante de microbiota fecal gerou melhora no comportamento e no controle das crises epilépticas em cães.
Em português claro: a alteração no perfil de microbiota intestinal pode ter relação com a ocorrência da epilepsia e de alterações no comportamento, e, ainda, determinar se um animal com epilepsia irá responder adequadamente ou não ao tratamento medicamentoso.
Então, como aplicar esse conhecimento na prática? Os medicamentos anticrise seguem sendo a base do tratamento do animal com epilepsia idiopática. Condutas que visam alterar a microbiota intestinal podem ser utilizadas como estratégia complementar ao tratamento:
- Alterações na dieta (ex.: dieta com MCT/cetogênica);
- Probióticos/pré-bióticos (e, em protocolos futuros, transplantes de microbiota fecal);
- Cuidado com uso de antibióticos pois alguns pacientes podem descompensar (provavelmente por desequilíbrios na flora intestinal).
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