O uso de canabinoides em animais (derivados da planta Cannabis sativa L.) tem despertado crescente interesse na medicina veterinária, especialmente entre profissionais que buscam alternativas seguras e embasadas cientificamente para auxiliar no tratamento de difícil controle de origem neurológica, osteoarticular, oncológica, dermatológica, comportamental, cuidados paliativos e em doenças inflamatórias e/ou crônicas. Embora ainda cercado de tabus e desinformação, o tema vem ganhando espaço em congressos, grupos de estudo e publicações científicas.
Recentemente, tive a honra de palestrar para o Grupo de Estudos em Neurologia de Pequenos Animais da UFMG (onde me formei e fiz meu mestrado e doutorado), abordando justamente esse tema: como os derivados da Cannabis podem ser utilizados de maneira técnica, ética e responsável na rotina do veterinário de pequenos animais.
Durante a aula, começamos com um resgate histórico do uso medicinal da Cannabis, que remonta a milênios e inclui registros em culturas antigas. Avançamos para a biologia da planta, que é chamada de polifarmácia por apresentar centenas de substâncias em sua composição. Conhecemos o sistema endocanabinoide, um sistema biológico amplo composto por substâncias endógenas e receptores com os quais os derivados da Cannabis interagem (e, pasmem: também a dipirona e o paracetamol!). Passamos então para o cenário atual na medicina humana, onde o uso de canabinoides já é regulamentado há muitos anos em diversos países, com ampla produção científica e protocolos terapêuticos bem estabelecidos para condições como epilepsia, dor crônica, esclerose múltipla e náuseas induzidas por quimioterapia. Mas e na medicina veterinária? O que temos de evidência sobre canabinoides em animais, especialmente em cães e gatos? Foi essa a segunda parte da aula. Apresentei os principais estudos clínicos e experimentais já publicados, abordando efeitos positivos e limitações, bem como as lacunas que ainda precisam ser preenchidas. Falei também sobre os cuidados necessários com formulações, dosagens, metabolismo nas diferentes espécies e potenciais interações medicamentosas — pontos essenciais para quem deseja prescrever com segurança. Na terceira parte, discutimos as diretrizes éticas que devem nortear a prescrição de canabinoides em pequenos animais. Reforcei que, mesmo diante da empolgação com os relatos clínicos e estudos promissores, é fundamental agir com prudência, embasamento técnico e respeito à individualidade do paciente. Isso inclui informar adequadamente os tutores, utilizar produtos regularizados e acompanhar cuidadosamente a resposta terapêutica.
A palestra completa está disponível no YouTube:
🎥 Assista à aula “Desmistificando as terapias com canabinoides em pequenos animais”
E para quem deseja se aprofundar de forma estruturada, desenvolvi, em conjunto com a colega médica veterinária Rafaela Costa Magrini, um curso completo voltado exclusivamente para médicos veterinários. No curso, abordamos desde os fundamentos da farmacologia canabinoide até os aspectos legais, clínicos e práticos da prescrição veterinária de derivados da Cannabis.
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Vamos juntos construir uma medicina veterinária mais consciente, técnica e aberta às novas possibilidades terapêuticas — sempre com responsabilidade, ciência e empatia.